sábado, 15 de abril de 2017

A Vida Lumbersexual e Suas Invenções Maravilhosas

Tenho me esforçado para postar menos sobre culinária e mais sobre coisas que podem salvar o dia de um sitiante acidental, afinal há vida fora da cozinha, e como o inverno já vai começar, estou com muito trabalho atrasado no sítio, inclusive cortar lenha para quando o frio chegar aqui na Serra da Borrússia.

Atenção, reclame legal:



  • Art. 56, Lei 12.651/12 regra o uso das reservas legais (e dos remanescentes) para a extração de madeira e lenha para consumo próprio nos imóveis considerados como pequena propriedade ou posse rural familiar, ou seja, aqueles que tenham extensão de até 4 módulos fiscais e ela só se aplica aos produtos madeireiros de árvores nativas; pinus, eucalipto e outras exóticas não possuem restrição, mas cuidado, pois houver um subosque nativo bem desenvolvido, é bom tirar licença e talvez algum replantio seja exigido pelo impacto causado.


Então não é necessária nenhuma autorização dos órgãos ambientais competentes para a retirada de madeira nas propriedades familiares, desde que não haja comércio dos produtos madeireiros, tão pouco transporte para fora da propriedade e alguns limites anuais sejam respeitados:

  • A quantidade retirada não pode ultrapassar dois metros cúbicos por hectare, e no total, o manejo madeireiro não poderá comprometer mais de 15% da biomassa da Reserva Legal, nem superar a 15 (quinze) metros cúbicos de madeira, independente se o uso será em lenha para queimar ou em madeira para benfeitorias.


Não transite com lenha por ai, vender nem pensar, e não corte mais que 15 metros cúbicos por ano, nem tire mais que dois metros cúbicos de um hectare, o que leva a uma pegadinha: só propriedades com 7,5 hectares ou mais podem cortar 15 metros cúbicos por ano. Ou seja, se você é minifundiário, passe frio, compre lenha, plante eucalipto ou tudo isso junto.

Outra coisa, como é muito difícil distinguir entre madeira de árvores caídas e cortadas, priorize sempre as primeiras e tente deixar o mato em paz, mais da metade da lenha que uso aqui vem de árvores derrubadas pelo vento, ou que simplesmente morreram. Sim, isso dá mais trabalho, mas compensa.

Voltemos ao assunto. Cortar 15 metros cúbicos de lenha não é trabalho fácil, e para comprar tem que ter uns R$ 3.000,00, como nem todo mundo tem isso tudo, eu inclusive, então o jeito enfrentar a pedreira, e aproveitar que o visual "lumbersexual" tá na moda, mas cuidado, se virar "hipster" tu não me conhece, nem leste este blog ...

http://www.citypages.com/arts/meet-the-lumbersexual-hes-part-hipster-part-metrosexual-all-sartorial-man-6592215

Para enfrentar este desafio, antes de pegar no machado e posar, preferi pesquisar no GuruTube o que andavam fazendo para facilitar o trabalho do lenhador solitário. Veja este vídeo que me inspirou pela praticidade da enjambração:




Aproveitando os princípios da permacultura que dizem que a gente deve reciclar antes de tudo, e nesta crise isso é mais que necessário:

Partiu Ferro Velho do Sebastião, aquele que não te deixa na mão.... 

Por R$ 50,00 reais comprei uma estrutura de ferro já galvanizada e bem forte, mais umas abraçadeiras de ferro, também galvanizadas, e um pedacinho de cano de 3/4 polegada.

Cortei uma parte do pé da estrutura de ferro que deveria ser para fixar algo na horizontal em uma tubulação e a coisa parou de pé, virando um cavalete. Ai cortei duas abraçadeiras e com as laterais fiz extensores para serem aparafusados em cada braço do cavalete.

Estrutura transformada em cavalete com as garras já adaptadas.

Parti em quatro o cano de 3/4 de polegada e nas abas da abraçadeira que sobraram fiz uns dentes para cravar na madeira, ai foi passar uma barra roscada de 3/8" ou algo assim, entre os furos dos extensores e nela colocar os pedaços de tubo alternando, como espaçadores, com os dentes. Na imagem abaixo fica bem fácil ver este detalhe.


Extensor com a barra aparafusada (uma porca de cada lado), canos como espaçadores e os dentes cortados nas abas das abraçadeiras que sobraram.

Como sempre digo, quem guarda sempre tem! 

Tem um monte de tralha para por fora... 


A foto do resultado do cavalete está abaixo em teste, no qual usei um tronco que pesava pelo menos uns 20 kg, com 1,5 metros e pelo menos 25 cm de diâmetro de uma pitangueira que anos atrás foi cortada porque estava derrubando o mudo da casa da minha avó em Porto Alegre, eu a trouxe e deixei estocada para fazer alguma coisa, pois a pitangueira é uma das madeiras mais lindas que conheço, além dos galhos finos servirem de lenha no churrasco por darem um gosto especial na carne sem defumar demais.


Eesta pitangueira, embora tenha pego até cupim nestes anos todos - nos pés do cavalete podem ser vistas algumas bolachas que foram cortadas para isolar estes "bixinhos" - permitiu tirar umas tábuas pequenas.


Eis uma gamela que fiz deste tronco e tem me ajudado muito, pois além de linda, ficou ideal para cortar o salsichão da Borrússia e servir com farinha, sem voar e sujar tudo. Ainda há madeira para tentar outros modelos, penso nuns pratos ovais. Só esta gamela já valeu mais que todo o investimento.

Gamela 30 X 20 X 5 cm.

Tá, mas ai vem os críticos deste blog e contra os milhões de "likes" e milhares de comentários lindos alguém vai dizer "bonito, mas só funciona se forem toras grandes...".


Calma, não é assim: dois ou três galhos com diâmetro menor podem ser postos junto e um galho pequeno embaixo, deixa qualquer coisa na horizontal, mas de qualquer forma vale a crítica e a motosserra tem que estar na mão, ela pesa para burro, treme, faz barulho, etc., assim se teve que tentar outra coisa.

Cavalete para Motosserra:


Depois de usar meu Cavalete Tubarão (aceito sugestões de nome e pedidos comerciais...) por algumas horas, cheguei a conclusão que, de fato, o caminho ainda estava pela metade e precisava de algo mais ágil, mais fácil para trabalhar sozinho e mais eficiente.

Voltamos ao GuruTube e achei outro modelo de cavalete, só que este era para a motosserra. Vejam a coisa legal do tal "Chainsaw Holder":




Partiu Ferro Velho do Sebastião, aquele que você já sabe, pois reciclar é fundamental. Numa pilha de tubos e ferros havia estas chapas dobradas em U, alguns metros de cantoneiras de 1" X 1/4" de uma janela ou portão desmontado e uns pedaços de ferro de construção de 3/8".


Cantoneira e chapa dobrada em U com 130 X 7 X 3 .

  • A propósito, tem lei idiota para tudo, como tem idiota para todas as leis também. Por que não fugir um pouco do normal e padronizar todas estas medidas em um só sistema, seja Imperial, seja Internacional. Já fizeram isso com nossas tomadas, e custou uma nota trocar tudo aqui em casa, agora bem que podiam abolir o império e terminar com essa coisa de tubos, ferros e cantoneiras em polegas, parafusos, então, nem se fala, porque o passo de um parafuso métrico é diferente do passo do parafuso em polegadas e as porcas de uns não servem nos outros, embora os dinâmetros sejam praticamente os mesmos.

Feito o protesto anti-imperial (que a força esteja com você),  resta por todas as coisas junto. Primeiro bati duas a duas as chapas dobradas, uma contra a outra encaixando-as para poder soldar a mesa de suporte da motosserra e o pé da frente; depois cortei a cantoneira no meio e fiz as duas pernas traseiras com aproximadamente 80 cm cada uma e as soldei na mesa conforme a segunda foto, por fim o pé da frente foi soldado:



Chapas batidas e soldadas.


Pernas soldadas

Cavalete tomando forma.

Claro que ficou inclinado, mas a sobra do pé da frente é importante, porque dela saiu o braço que foi soldado na frente da mesa, onde fica a haste que aciona o ferro do acelerador.


A sobra do pé foi cortada para nivelar a mesa e rendeu o apoio do acelerador.
Lembram-se das abraçadeiras metálicas do primeiro cavalete? Pois é, quem guarda tem... fui no lixo e peguei uma das mais largas e cortei sua aba para usar em baixo da motosserra como calço de nivelamento, já que a outra parte em "L", após fazer dois furos para fixar os parafusos do sabre, foi soldada para apoiar e fixar a motosserra sobre a mesa do cavalete.

Com o pedaço de ferro de construção de 5/8" foi possível dobrar um "U" com uma perna bem maior. A perna curta virou o acionador do gatilho da motosserra e note que o ferro foi transpassado na mesa do cavalete por dois furos, para logo depois ser novamente dobrado no local mesmo (usei um cano por fora dele) afim de que voltasse para baixo e pudesse ser amarrado ao acionador do acelerador por uma corda que depois de algumas tentativas e erros permitiu um bom ajuste da aceleração.

Abaixo o cavalete com a motosserra. O ferro preso no braço que aciona o acelerador é uma antiga navalha de cortar papel reaproveitada, mas o importante é que seja algo curvo para ser suave e progressivamente empurrado pelas toras de madeira e acelerar a corrente na medida da necessidade.

Ele está amarrado ao ferro do acelerador que aciona o gatilho da motosserra, se der um zoom na foto vai ser possível ver que há um arame moldado a giza de mola amarrado na perna do cavalete e no ferro do acelerador para fazer o retorno e ele é muito importante, pois faz com que a corrente pare desacelerando o motor depois que a madeira foi cortada.

Cavalete de corte.

No detalhe está o ferro do acelerador que aciona o gatilho da motosserra, note que foi preciso uma cinta plástica pequena para liberar a trava do gatilho da motosserra e ela deve ficar frouxa apenas o suficiente para correr para trás quando for necessário religar o motor. Há uma segunda cinta para fixar o cabo da motosserra à mesa, pois o sistema anti-vibração dela impedia o correto acionamento do gatilho pelo ferro do acelerador.

Detalhe do acionamento do gatilho.

"Pulo de Gato" Como fixar a motosserra pelo sabre.

Depois vou colocar fotos, mas não são necessárias para entender o processo:

Os parafusos do sabre da minha motosserra são do Sistema Internacional, tipo M8 , ou seja, oito milímetros de diâmetro e eles têm um passo (distância entre as cristas e vales das roscas) conhecido como rosca fina. Como são curtos, para fixar a motosserra direto na chapa soldada do cavalete, precisava de espaçadores que enroscassem neles e deixassem uma outra ponta para fixação.

Procurei muito e não encontrei nada que servisse, talvez uma porca dupla M8 resolvesse a questão, mas sempre que "tinha, tava em falta...", assim ou eu mandava tornear e ia ser mais caro, ou adaptava algo.

A solução foi comprar duas porcas de sabre novas e soldá-las em porcas de junção de barras roscadas de 5/16" do Sistema Imperial. Elas possuem perto de três centímetros de comprimento e caem como uma luva na função de espaçadores, pois seu diâmetro interno de rosca é 7,94 mm.

Assim, não foi difícil soldar uma na outra. Bastou usar um parafuso M8 qualquer para enroscar a porca do sabre (M8) e depois a porca de junção de barra roscada (5/16") até umas duas voltas e meia, forçando um pouquinho. Com a porca do sabre tocando na de junção e ambas alinhadas pelo parafuso a solda não teve erro e ficou bem resistente.

Para fixar tudo no cavalete basta enroscar o lado da porca de sabre no parafuso da motosserra e na outra ponta do espaçador enroscar o parafuso 6/8" através do furo da chapa de fixação soldada no cavalete e para evitar que a vibração afrouxe as porcas se usa uma arruela de pressão.


É isso, e como não fiz para vender, se alguém quiser alguma informação a mais é só perguntar.

SERRE-SE!