domingo, 20 de agosto de 2017

A matemática e a marcenaria de um Sistema 2.1 de caixas de som TL DIY

Os anos setenta nem tinham dado e os oitenta só prometiam que eu iria me perder por aí quando, numa tarde quente, descobri que meu irmão e alguns amigos estavam fazendo um par de caixas de som. Gravei aquelas cenas para toda vida, foi uma revelação e tanto quando aquelas coisas mágicas que faziam o som da eletrola do meu Pai, que tanto eu desejava ver como eram por dentro, viraram mundanas, estavam ao alcance e até podiam ser construídas.

Na época não sabia que eram caixas Bass-Reflex de três vias com alto falantes e Tweeters da antiga e pioneira Selenium. Não sei se ainda existem, mas ficaram penduradas no "quarto de estudos" por muitos anos... as perdi de vista em meados de 1996 quando, sem desconfiar de que alguns meses mais tarde estaria morando no Amapá e nunca mais voltaria para a quela casa, eu iniciei uma reforma na garagem que nunca terminou e as guardei na casa da minha Tia, mas é bem capaz que elas ainda estejam por lá.

Desde então perdi os graves na minha vida e mesmo comprando mais de uma dezena de "mini systens", "mid systens" e outras tralhas sonoras nunca consegui preencher o vazio sonoro da falta delas e pode ser por este motivo que em 2006 comecei a pensar em construir caixas de som na solidão de Brasília.



Nessa época baixei um monte de livros e manuais sobre alto falantes, projetos de caixas, sonorização de ambientes, engenharia de som e por ai vai. Até um pouco de eletrônica estudei enquanto lia o Dickason no original, debulhava o Youtube e minerava foruns de discussão; mas ficou na teoria, me faltava uma "garagem de homem" e não podia ir para a prática.

Quando vim para Osório e comecei a resolver o caso da garagem e pude retomar os estudos sonoros. Foi então que as caixas de som tipo Linhas de Transmissão chamaram a minha atenção pela matemática peculiarmente simples e complexa ao mesmo tempo. Fiquei curioso, pois nunca tinha visto ou escutado um bicho destes, muito raros no Brasil do Pancadão.

Este ano consegui passar o sonho a limpo e posso contar um pouco da estória delas, que inicia pelos sábios ensinamentos do Balu:

"Eu uso o necessário. 

Somente o necessário. O extraordinário é demais. Eu digo necessário, Somente o necessário, Por isso é que essa vida eu vivo em paz"


Construir caixas de som tem algo de sagrado, não parece combinar com ostentação e fetiches, embora muito se veja por ai, principalmente neste universo paralelo dos audiófilos "audiotas" competitivos, capazes de comprar cabos de milhares de dólares e equipamentos que custam apartamentos.

Tinha que declarar a necessidade de enfrentar os mitos para construir algo verdadeiro e fazer deste sonho uma forma de aprendizado pessoal.  A primeira decisão foi focar no essencial, pagar apenas por produtos honestos e verdadeiros e pesquisar ao máximo todas as alternativas, desconfiando de tudo, sempre. Foi assim que comecei a busca dos alto falantes pelo mercado não convencional, evitando os sites muito lindos, os especialistas muito eloquentes e os templos especializados em som junto com seus profetas.

No Aliexpress os preços eram bons, mas o peso destes produtos parece inviabilizar o frete de pequenas quantidades, além de raramente os parâmetros estarem disponíveis e isso implica em voo cego, algo que só os morcegos e os patos da Fiesp gostam.

Dentre os fabricantes nacionais as opções eram essencialmente para som automotivo, os quais, via de regra, são um pouco ruins para caixas de som "home", exceção possível são os produtos da NAR Audio, que servem de base para o único projeto comercial de caixas Linha de Transmissão brasileiro, as famosas Baubo. Elas são assinadas pelo Renato Lyra, um nome acima de qualquer suspeita no meio DIY Audio nacional e só não os adotei porque estouravam a meta dos trezentos reais que me impus para não irritar o Balu.

Virou e mexeu, estava quase desistindo da meta quando achei o site do José Souza, um carioca atencioso e apaixonado por som que comercializa alto falantes, cabos, kits, etc. com preço justo e de forma honesta. Ele tem uma loja virtual direta chamada Souza Custons, e também usa o Mercado Livre, onde é possível economizar um pouco no frete. Foi a salvação, já que ele importa quantidades maiores e consegue um preço bem melhor pelo frete diluído, além disso, boa parte dos alto falantes têm os parâmetros medidos e publicados de forma sincera. Comprei o Kit para um sistema 2.1 por menos que a meta em maio deste ano e superei minhas expectativas em um Subwoofer pequeno, mas cumpridor!

Este kit vem completo para montar duas caixas pequenas Bass Reflex de duas vias e um Sub passivo, inclusive traz capacitores para os Tweeters, dutos e plugs. Montar conforme as recomendações foi a minha primeira ideia, cheguei a fazer os cálculos de volume, mas mudei de ideia ao ver no YouTube a avaliação muito positiva feita pelo Renan Lopes, responsável pelo projeto inovador Estudo do Audio.

Pausa: recomendo enfaticamente a inscrição neste projeto para todos que se interessem em apreender sobre áudio com alguém que tem experiência e conhecimento teórico de sobra. 


Como ele mediu os alto falantes ao vivo e bateram os dados com o que estava no site, me convenci de que aqueles "midibasszinhos" iam além da BookShelf recomendada pelo Souza e mudei o projeto.

To boldly go where no man has gone before


Masá! Agora só faltava o desenho da caixa e navegar um pouco foi preciso. Pensei em copiar as Balbos, o que não seria feio, pois o Renato disponibiliza gentilmente as plantas, embora venda o kit também - seres de luz e de som fazem assim, só não fui por ai porque havia diferenças significativas entre os meus alto falantes Eastech e os Nar Audio dele.

Lembrando do quadro do Touro do Picasso, resolvi buscar inspiração na internet.

O Ministério do Vai dar Merda Alerta que é sábio ir do complexo para o simples.

Encontrei projetos e desenhos lindos, mas tão cheios de dobras, cortes e recortes que demandariam horas e horas de marcenaria e muito dinheiro, por outro lado, aqueles que se mostravam simples, eram por demais simplórios e dificilmente poderiam ser obra que alguém que dominasse a matemática necessária deste tipo de caixa.

Estava decepcionado quando encontrei na seção DIY do Speaker Building, onde realmente tem coisas muito boas e bem explicadas, a inspiradora OA-Transient II que me convenceu da existência de um caminho simples e de bons resultados neste mundo DIY Audio.

Sua solução inteligente e inédita de base, feita com apenas duas peças, que além de formarem os pés, moldam uma passagem facilitada para as ondas sonoras e o ar na dobra do duto é brilhante e eu queria muito ter tido esta ideia. Só não copiei o projeto porque ele é vendido e coerentemente com o caminho do touro, devia ser o máximo desconstrutivo possível: já tinha as as linhas gerais do design na cabeça, precisava, apenas, encontrar uma forma ainda mais limpa e uma estrutura ainda mais simples para construir minhas TLs.

Half Mile Cars and Quarter Wavelength Loudspeaker


Um carro de racha destes deve correr 800 metros contra o relógio e só os bons ficam abaixo dos 10 segundos. Não vai cair no Enem, mas eles atingem a média de 288 Km/h, quase 85% da velocidade do som e também não serve para desenhar TLs, mas introduz suas ideias mais básicas: há um trajeto a ser percorrido com uma velocidade determinada para atingir um determinado fim.

Os alto falantes tocam para os dois lados, emitindo ondas sonoras em fases distintas conforme o cone se move para frente ou para trás e as Linhas de Transmissão (TL) usam as ondas sonoras traseiras do alto falante para melhorar a performance, como se fossem um turbo, porque as conseguem por na mesma fase das ondas frontais quando elas se encontram, evitando cancelamentos e promovendo um acoplamento sonoro que eleva o volume, ou Pressão Sonora  (SPL) de determinadas frequências que seriam dificilmente percebidas.



Baubo

Para fazer isto elas possuem um duto comprido responsável pela sintonia da caixa, por onde as ondas sonoras traseiras são escoadas contidamente durante um tempo suficiente para que sejam atrasadas em um quarto de ciclo e assim entrarem em fase com as ondas dianteiras. Normalmente o duto tem o tamanho de um quarto do comprimento de onda da frequência de ressonância do alto falante (parâmetros Fs), pois esta é a mais baixa frequência gerada com energia suficiente para percebida dentro da faixa de sensibilidade dele. Este é o motivo pelo qual as TL também são conhecidas como caixas de um quarto de onda (Quarter Wavelength Loudspeaker).

Simples assim, só que não!


O ouvido humano nos permite perceber sons de 20 a 20.000 Hertz (Hz) e como as vibrações são para todos, se deve lembrar que a melhore caixa de som do mundo não vai produzir som, ela só pode reforçar e harmonizar o que foi gerado pelo alto falante e de uma forma geral, todas seguem alguns princípios: 
  • Ondas sonoras de frequências mais baixas precisam de mais energia para alcançarem o mesmo volume sonoro percebido por alguém.
  • Para tocar música o amplificador gasta 60% de sua potência gerando os graves, não mais que 30% para os médios e o restante para os agudos. 
  • A propagação do som não guarda linearidade, ou seja, quando nos afastamos da fonte sonora a intensidade do som cai muito mais rápido do que aumenta a distância, tanto que a medida sonora denominada decibel (dB) possui uma escala logarítmica que desenhada em um gráfico resulta numa curva e não uma reta.
  • Em termos práticos para manter o mesmo volume ou pressão sonora percebido por um ouvinte se ele se se distanciar mais a metade do caminho até a fonte sonora, será preciso aumentar a potência no dobro.
  • O nosso ouvido não é igualmente eficiente para todas as frequências, pois ouvimos muito melhor entre os 1.000 e os 10.000 Hz, onde se situam os comprimentos de onda típicos da fala e por isso os telefones são sintonizados nesta faixa, donde vêm o completo fracasso deles para reproduzir música pelo seus alto falantes pequenos.
  • As pessoas são capazes de perceber variações no volume ou pressão sonora apenas acima de 03 decibéis para mais ou para menos e para gerar uma elevação desta monta o amplificador deve aumentar a potência em duzentos por cento. Um amplificador de 100 Watts só é efetivamente mais potente (gera mais SPL) 5 vezes que outro de 3 Watts!
  • Ondas sonoras trazem no primeiro segmento, que corresponde a 1/4 do seu comprimento total, todas as informações originais, as quais são repetidas nos três quartos seguintes, primeiro por decrescimento e em seguida, na metade final, por espelhamento na mudança de fase (sinal).

Para calcular uma TL com alguma chance de sucesso, na verdade duas, já que uma será o Subwoofer e a outra o Mid Bass do Kit foi preciso chamar os universitários.

Muita teoria e um método de cálculo acurado para estas caixas pode ser encontrado no site mantido pelo Martin J. King chamado Quarter-wave, está em inglês, mas com boa vontade e alguma sorte o Google Translate consegue ajudar. Ele também comercializa um software bem completo para o cálculo das TLs, pois as coisas complicam quando são usados dois ou mais alto falantes, são escolhidos locais diferentes para eles no duto e usados materiais distintos para preenchê-lo.

Este software é meio caro para nós e como foi escrito em Math Lab custa mais caro ainda, pois precisa deste programa matemático para funcionar. Ocorre que seres de luz e som ajudam mesmo, e no seu site também se pode obter uma planilha capaz de fazer toda a parte básica dos cálculos. Creio que ela foi produzida por um colaborador chamado Bjorn Johannesen, que também assina um ótimo texto explicativo de como funciona o software do Martin.

Uma fonte em português é o livro Caixas Acústicas e Alto Falantes do Dickason, traduzido pelo Homero Silva e comercializado pela Sheldon na sexta edição revisada e ampliada. Ele vai muito além das TLs, embora sobre elas apresente integralmente o método clássico que Augspurger  realizou em meados do século passado e que serve de fonte para quase todo mundo, pois até ele, não havia um modelo matemático que simulasse o funcionamento de uma TL de forma consistente.

Vale a pena, ainda, visitar o site mh-audio-nl onde há 60 ou mais calculadoras para quase tudo que se precisa em sonorização, duas dedicadas ao cálculo das TLs, uma especialmente interessante porque ajusta o tamanho do duto em função da variação da velocidade do som (pode ser calculada em outra página) causada pelo material de preenchimento do duto. Algo que pode parecer uma firula, mas é fundamental para a sintonia da caixa se lembrarmos que a distância a ser percorrida por uma onda sonora em um duto é uma função do tempo e da velocidade do som uma vez que a aceleração pode ser desprezada.

Se alguém achar mais informações e fontes, por favor, me avise e se quiser disponibilize nos comentários, só molhamos o dedo neste oceano.

As Três Moiras


É costume as pessoas darem nomes às coisas que criam e as caixas de som não fogem da regra, já falei das Balbos, da OA-Transient II, mas tem também a D'apolito e muitas outras, inclusive de outros tipos, como a famosa Euclides que hoje está em guerra com as Full Trap pelos paredões nacionais.

Quem conhece um pouco de mitologia clássica deve lembrar das três irmãs temidas até por Zeus, pois fiavam, teciam e cortavam a linha da vida sem ninguém poder impedir e merecem uma homenagem. Vou chamar minhas TLs  de Moiras, as MID são Cloto e Láquesis e a Sub Átropo, porque é matadora.

Elas começaram pelos parâmetros dos Mid Bass e do Subwoofer vs algumas regras que fui juntando das várias fontes utilizadas e em especial o texto do Risch:

  • A sintonia da caixa deve ser 5 a 10 Hz abaixo da Frequência de Ressonância (parâmetro Fs) do alto falante se a qualidade total (parâmetro QTS) dele muito maior que 0,35 e se ela for próxima ou menor, então a sintonia da caixa deve ser 5 a 10 Hz acima da Fs do alto falante.
  • Uma TL inicia em uma área fechada, abaixo dela há uma câmara ligada ao duto pela abertura inferior denominada garganta e ele se estende e afina (conicidade) até a saída, ou boca:
    • a área da parte fechada (topo) deve ser duas ou três vezes a área útil do cone do alto falante (parâmetro SD).
    • a conicidade do duto deve respeitar uma proporção máxima de 10:1, modelos clássicos usam 4 ou 3:1 entre a área da seção fechada e a boca. 
    • a boca deve ter uma área igual a SD, ou ligeiramente inferiror e pode ter uma porta de abertura regulável para sintonia fina da TL.
  • Os alto falantes devem ficar um pouco para dentro do duto, distanciados do topo entre 1/15 e 1/30 do comprimento total do duto.
  • O duto deve ser preenchido com material fibroso nos dois primeiros terços de seu comprimento deixando no mínimo os 30 cm finais sempre livres. Isto filtra ressonâncias, picos e vazios agindo como se o duto fosse mais comprido. 
  • Cada curva imprime um efeito no duto como se ele tivesse mais três ou quatro centímetros.
  • O volume interno da TL deve ser um pouco maior que o Volume Equivalente do alto falante (parâmetro Vas).

A Planilha do Martin e as duas calculadoras da internet permitiram fazer várias simulações, mas o ponto de partida deve ser comprimento teórico do um duto reto de 1/4 de onda encontrado pela divisão da velocidade do som (344 m/s) por 4 vezes a frequência de ressonância do alto falante:

  • A Fs de 54,7 Hz do Subwoofer indica um duto de 1,57 metro.
  • A Fs de 78 Hz do Midbass indica um duto de 1,1 metro.
Como o desenho permitia incluir uma curva e preenchimento do duto com material absorvente, as simulações resultaram em dutos com comprimentos reais um pouco menores:

  • 1,04 metro para o Sub.
  • 0,88 metro para os Mids.
Pois foram derivados dos dutos efetivos encontrados nas simulações:
  • 1,5 metro para o Sub.
  • 1,05 metro para os Mids.
Com estes valores foi possível definir as linhas básicas das caixas e optar por apenas uma curva no duto, assim as caixas teriam uma forma longilínea e harmônica, sem ultrapassar um metro de altura. O projeto em SketchUp pode ser baixado aqui junto com o plano de corte.



Uma vez calculado o duto e definida a altura era necessário definir a largura e a profundidade. A primeira pode ser definida discricionariamente e 20 centímetros foram a escolha porque é um múltiplo aproximado da altura final das caixas, se for usada a proporção áurea (6 X 1,62), além disso compatibiliza bem com a largura dos alto falantes e é um tamanho bom para manusear e trabalhar. Além disso a profundidade seria parecida ajudando na estética.

O cálculo da profundidade exigiu usar o volume calculado na planilha do Martin (Vb), donde saíram as medidas da garganta e da boca também. Com o  Vb e as demais medidas foi fácil encontrá-la (nem descontei a parede interna): o Sub requereu 0,215 metro e os Mid 0,2 metro. Estas medidas são todas externas derivadas do volume interno que requereu o desconto da espessura do material utilizado para manter a importância do Vas no cálculo das TLs.

Foi escolhido o MDF de 18 mm para a estrutura das caixas porque a potencia do sistema ficou entorno de 100 Watts, assim não requereria travamentos e reforços para complicar a execução.

A Hora do Lego é a Legal!!!!


Tudo calculado e desenhado, com os alto falantes na mão, basta achar um revendedor de MDF que corte com precisão milimétrica (o meu deixou a desejar...). Neste ponto é interessante acrescentar mais duas metas que me impus.

Quando iniciei os estudos de design das caixas defini que elas não poderiam utilizar mais que uma chapa de MDF e que o aproveitamento teria de ser acima de 50%, deu certo, como pode ser visto no plano de corte - as duas chapas de 740 x 740 mm são para outro projeto, aguardem.


O desenho deveria ser o mais reto possível, para que pudesse ser utilizado por qualquer pessoa com um mínimo de bom senso, uma furadeira aparafusadora e alguns grampos para colagem. Foi por este motivo que não fiz os pés em V como a OA-Trasient II, embora achasse genial a solução, quando me dei conta de que se eu encompridasse o máximo as caixas, poderia apostar que seria desnecessário atenuar os cantos da curva no pé das caixas, mesmo nas Mid, onde as frequências mais altas tenderiam a sofrer mais.

Foi uma aposta que parece ter dado resultado, pois não senti reverberação, nem que o SPL tenha caído, mas de qualquer forma vou testar quando os Crossovers chegarem e eu tiver que abri-las novamente, para isso colei umas curvas com MDF de 3 mm e vou instalar, mal não fará, apenas deve resultar em nada.

A chapa custou aproximadamente R$ 60,00 reais e cada corte R$ 3,00, logo, tudo saiu uns R$ 120,00 incluindo os parafusos e a cola.

A primeira etapa da montagem foi acender uma vela para São Gelásio e seguir com fé marcando os furos dos parafusos com o espaçamento de 5 cm no Sub e 8 cm nas Mids. Em seguida localizei parede interna para estabelecer a proporção entre a garganta e boca, lembrando que ela termina na curva do pé das caixas. Foi fácil marcá-la levando em conta que a curva tinha o raio de 5 cm e que a altura da garganta era o resultado da sua área calculada na planilha dividida pela largura interna (164 mm).

Quando todos os furos foram marcados, inclusive nas paredes frontal e traseira, topo e base, foi realizada a pré-furação de tudo e feitos os rebaixos para as cabeças dos parafusos não ficarem salientes.  A montagem iniciou pela fixação das paredes internas em uma das laterais, passando cola especial para madeira nas duas faces de contato. Também pus cola nos parafusos antes de apertá-los meio das peças para as pontas. Foram usados grampos para pressionar as placas uma contra a outra durante a secagem de 6 horas.


Aqui cometi um pequeno erro ao esquecer de instalar os conectores dos cabos antes da colagem e como tive que fazer isso depois, com as caixas já coladas, isto dificultou o trabalho desnecessariamente e exigiu que eu comprasse uma serra copo específica.

Com as paredes laterais fixadas nas paredes internas foi fácil fixar o tampo, propositadamente externo às paredes laterais, para não repetir a fixação da base que foi feita por dentro das paredes. Pode ser crença, mas como um dos maiores defeitos de caixas mal construídas é a vibração indesejada das paredes externas, é bom se precaver e além de fixá-las solidamente umas as outras, não se deve repetir o mesmo padrão de montagem.

O passo final foram as paredes traseiras, lembrando que para respeitar a proporção calculada da conicidade do duto elas ficaram diferentes no Sub e nos Mids. Rente com as paredes laterais no caso do primeiro e recuadas para dentro no segundo.

Neste momento as paredes frontais já estavam furadas e era necessário fazer as furações para os alto falantes. Os Tweeters tem o diâmetros de uma polegada, os  Mids quatro e meia e o Sub seis e meia, há serra copo para cada um deles, porém são caras, então preferi usar minha Bailarina, que não faz um bom acabamento mas estava na mão, já que tinha serra copo apenas para os Tweeters.

Ai me ocorreu que se fixasse os alto falantes por fora e os Tweeters por dentro da parede frontal aproximaria os centros magnéticos e isso ajuda a diminuir a defasagem das ondas sonoras, coisa boba neste nível de fidelidade, mas não havia motivo para não fazer, apenas exigiria a produção de painéis externos na frente das caixas, mas eles ajudariam muito a quebrar as linhas excessivamente retas do conjunto.

Passei a Tupia por fora em cada furo dos alto falantes e com uma retífica ajustei eles para os aros que possuíam pequenos cantos. Os Tweeters iam ficar fundos e a direcionalidade seria excessiva, assim pareceu interessante fazer um alargamento no furo deles, de forma que passei a Tupia com uma fresa de 45° e depois fiz o mesmo nos painéis frontais. Somando a espessura dos dois notei que criara minicornetas com quase 3,5 centímetros de comprimento, o que pode ser pouco, mas como equivale a 1/4 do comprimento de onda de 2, 4 Khz é possível estarem ajudando um pouco no reforço dos agudos.

Bora pintar!


A chatice da pintura é diretamente proporcional a ânsia de escutar logo as caixas de som... que martírio, mas sabia que se eu testasse tudo antes de pintar elas ficavam daquele jeito para sempre...

Bom, tinha que seguir o figurino, passei massa de para madeira em todas as peças e lixei para alisar as imperfeições, desbastando os erros de colagem. O segundo passo dos acabamentos foi misturar pó do coletor da lixadeira com selador e tapar todos os furos dos parafusos. Ai voltei a lixar, mas com lixa média e depois fina.

Enquanto pensava na cor e no acabamento frontal decidi pintar toda a parte interna com tinta branca emborrachada anti vibração que chamam de Batida de Pedra, gastei uma lata e custou R$ 13,00. Fazendo isso vi que secava rápido e era fácil de aplicar, assim resolvi pintar por fora com o mesmo produto, mas em preto, pois embora o acabamento fosse fosco, com um verniz ficaria bem bonito.

Quando ia pintar as laterais decidi fazê-las com o mesmo acabamento dos painéis frontais que ainda nem sabia qual seria. Pintei de preto os tetos, as paredes frontais e as bases e sentei para pensar nos acabamentos.

Primeiro minha garagem é uma bagunça e estava de saco cheio de chutar uma chapa colada de Pinus que ficava sempre no caminho, não importava o trajeto, então peguei ela e cortei em três para fazer os painéis frontais.

Me ocorreu que nas Mids ficaria bonito um acabamento em meia lua e cortei uma fatia com minha Tico-Tico, só que errei no caminho e o corte foi para dentro ao invés de tocar na quina da tábua, mas não foi o o Leminski quem disse que distraídos venceríamos? Ficou bem bonito este por acaso.

Prensei uma chapa na outra para usar como molde e cortei a segunda pelo avesso. Mais meia hora de lixa elas se encaixaram o suficiente - afinal, um pouco de rusticidade é da natureza DIY.

Olhando os painéis cortados percebi que o detalhe do engano permitia fazer uma peça para o Sub que ia completar o semi círculo sem grande trabalho, só cortar e furar, assim fiz ela e parei, pois ainda não sabia qual acabamento dar nos painéis frontais e nas paredes laterais.

Passei uns dias procurando na internet, queria colar placas de madeira (machetagem) mas o preço era alto demais, então fui no YouTube e no Pinterest buscar gráficos e fotos que servissem para imprimir uns adesivos, mas novamente o preço desaconselhou. Por acaso vi uns videos de artesanato e me caiu a ficha, por que não usar alguma técnica de pátina? Pesquisa feita, escolhi o Falso Couro por ser muito fácil e com algum esforço extra é possível dar algum efeito legal de profundidade que fazem no Faux Bulr.

As laterais e os painéis frontais foram pintados com um fundo, lixados e depois cobertos com duas demãos de tinta PVA laranja. Após a secagem receberam uma camada grossa de Betume a base de água na cor Café misturado a um gel matizador para atrasar a secagem, até que fosse rolado um paninho úmido e macio de malha que produz o efeito estriado. Na finalização foi pulverizado um pouco de verniz para isolar a camada de fundo e por cima foram feitos uns riscos com um vermelho bem vivo, também com PVA, usando um pincel de leque, isto deu alguma profundidade nas peças, mas não ousei muito.

O brilho veio das três demãos de Laca PU para piso e lastimei não ter pistola de pintura, teria ficado bem melhor. Aprendi uma coisa: a laca PU é linda, mas cria bolhas pequenas na superfície que secam e deixam feio o acabamento, para acabar com elas basta passar uma pistola de ar quente logo depois de pintar, elas e estouram na hora.

A Hora do Pipoco!


Bora Montar!

Não tem mistério no recheio das caixas, foi colar a espuma nas paredes envolvendo os drivers e preencher com fibras, usei lã natural, o espaço livre até dois terços do comprimento do duto interno, cuidando para que pelo menos os últimos 30 centímetros antes da boca fiquem livres.

Afim de evitar que a lã se desloque com o tempo, pinguei um pouco de cola nas paredes antes de assentá-la e prendi alguns parafusos para tramar as mechas de lã sem apertar.

Como as paredes frontais já estavam pitadas, apenas aparafusei os Tweeters por trás e os alto falantes pela frente vedando seus aros com uma cola de silicone.

Com os drivers fixos nas tampas cortei o cabo paralelo em cinco pedaços de um metro cada e soldei três deles nos contatos dos Mids e do Sub. Depois soldei os capacitores nos polos positivos dos Tweeters e os cabos restantes neles.

A última coisa foi soldar os cabos em paralelo, conforme as polaridades, nos bornes. Desta forma a a impedância das caixas Mid ficaram em 3 Ohms e a do Sub em 6 Ohms.

Como as potências ficaram em 45 Watts nas MIDs (25 do Midbass e 20 do Tweeter) e 60 Watts na Sub elas casaram como uma luva no amplificador Ching-Ling 2.1 que tenho e alega  entregar 100 Watts por canal e 150 para o Subwoofer sob impedâncias de 2 a 8 Ohms.

Restava apenas aparafusar as paredes frontais e sobre elas os painéis com parafusos pretos para melhorar a estética.

Liguei esperando o pipoco do curto circuito, ou o esturro do aterramento, mas milagres correm com coisas bobas também! Saiu um som muito bom, consistente, agradável em volume e com muita definição e ataque nas subidas dos rocks que eu gosto. Após ajustar no amplificador para cortar o Subwoofer tudo arredondou maravilhosamente.

Dindim & Tim Tim:


Os alto falantes e as chapas custaram R$400,00.
As tintas, lixas e pinceis utilizados no acabamento acrescentaram mais R$ 80,00.
A montagem final ainda exigiu alguns metros de cabo paralelo de boa qualidade que custaram R$25,00, quatro novelos de lã natural a R$ 12,00 cada e uma placa de espuma acústica que custou R$ 35,00.
Os pés foram feitos com doze porcas garra e doze parafusos Alen que custaram R$ 12,00.
Estimo que em tinta tenha gasto uns R$30,00

Somando tudo, creio que as caixas de som devem ter atingido um custo final perto de:

R$ 630,00

Nenhum dos meus aparelhos de som custou menos que isso, nenhum deles toca tão bem quanto as TLs: estou feliz e triste ao mesmo tempo.

Cloto, Átropo e Láquesis.

"OVA-SE"!